terça-feira, 19 de outubro de 2010

aquela mania de perfeição a acompanhava desde pequena. mulheres deveriam parecer barbies, deveriam saber cozinhar, lavar, e passar. ser discreta, não usar roupas curtas, respeitar todas as vontades dos homens. não ter vontades, e quando tiver, reprimí-las. e ela cresceu. não deixou de ser uma criança, mas já tinha tamanho, postura e comportamento de mulher. começou então a questionar tudo o que sempre aprendeu, tudo o que sempre a forçaram a acreditar que era certo. deixou de querer atingir a perfeição, desistiu de se obrigar a usar vestidos de tamanho adequado (ao que julgavam ser adequado), desistiu de reprimir todas as suas vontades. foi julgada e maneira errada, mas isso serviu para aprender que em sua vida, sempre iam querer mudá-la. seus gostos, suas maneiras, seu jeito de falar, de se vestir e de andar. seu cabelo, suas roupas, sua personalidade. ao deixar de ceder aos homens, foi tachada de ruim, de rebelde. e mais tarde, desistiu tambem de se importar com tudo o que pensavam e falavam a seu respeito. deixou de lado tudo o que sonhavam para seu futuro, e passou a se importar com sonhos próprios, que ninguem poderia dizer estarem certos ou errados. passou ter amizades com pessoas mais velhas, passou a aprender mais com elas, foi amadurecendo cada dia mais com tudo o que o mundo ia lhe impondo, e ela não reclamava disso, até então. mas tudo o que não segue um curso natural, depois gera as consequências. ela não esperava ter de enfrentar tudo o que um crescimento precoce poderia lhe causar depois. perdeu a ingenuidade, a inocência muito cedo. talvez ela preferiria que não fosse assim. entendeu tambem, que enquanto ela exigia exatidão em tudo o que fazia, as coisas e pessoas se tornavam cada vez mais imperfeitas. os sentimentos já não eram mais exatos, o amor da vida dela já não era mais sua família, o amor já não era mais aquele amor que já nasce dentro de nós. passou a ser um amor que a vida lhe ofereceu, deu em suas mãos, e ela, que ainda guardava algo do que a mãe lhe ensinara, o recebeu de bom grado, abriu as portas de sua casa, seu coração, para acomodar um forasteiro, alguem que ela não imaginava que poderia lhe incomodar algum tempo depois. deixou de exigir exatidão em tudo o que fazia, e assim, passou a viver mais. sentimentos não são exatos, não podem ser calculados ou medidos. sentimentos já não podem ser controlados.
"onde já se viu, o mar, apaixonado por uma menina?"

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